Textos


HISTÓRIA DE DOIS AMORES NEGROS VIVIDOS POR DESCENDENTE EUROPEIA



 ANA MARIA DE ASSIS FAZOLO
Relato de uma senhora de olhos azuis e de pele branca cuja origem e de alemão e italiano, moradora da cidade de Domingos Martins-ES.
A história de Dona Maria (nome ficticio) é de dois amores negros por ela vividos intensamente.
Dona Maria desde cedo dizia à sua mãe que não se casaria com homem branco, pois ela não gostava de sua cor.
Aos quatorze anos casou-se com mulato descendente de negro e índio no qual era tropeiro (fazia barganha de mercadorias). Sua vida foi sofrida devida sua condição social, eram muito pobres, mas isso não os impediu de serem felizes.
Em seu relato ela disse que as pessoas os viam com estranhamento, pois seu casamento aconteceu na década de 1950. Ela disse também que sua religião era a Luterano, porém casou-se na Igreja Católica porque o Pastor negou-se de realizar seu casamento devido o noivo ser mulato.
Aos vinte e quatro anos ficou viúva com seis filhos para criar. Não houve outra alternativa a não ser voltar a morar com seus pais e irmãos, sendo que estes sempre a apoiaram. Teve que ir à luta para ajudar no sustento de seus filhos. Como não teve a oportunidade de estudar o único trabalho que encontrou na época foi de lavadeira, que o realizou por trinta anos.
Dona Maria ficou viúva por cinco anos. Conheceu o Sr. José (nome ficticio) que foi adotado por uma família martinense descendente de alemães, pois seus pais que eram de circo e o abandonou quando por aqui passaram. Seu José não possuia sequer documentos pessoais. Estes só foram adquiridos quando foi servir o exército, sem saber sua idade ao certo. Lá ele chegou a ser sub-tenente, porém sua família adotiva não permitiu que lá ficasse, pois sua mãe estava muito doente.
Em 1964 Dona Maria e o Sr. José casaram-se. A vida deles também foi muito difícil, pois seu José também sobrevivia de sub-emprego e já iniciaram a família com oito pessoas. Entretanto o relacionamento deles perdura por quarenta e oito anos sempre  regado de muito amor, carinho, respeito, afeição, companherismo, amizade e solidariedade.
Com o Sr. José, Dona Maria teve um casal de filhos, sendo que a menina faleceu após um dia de nascimento por falta de recursos médicos que naquela época eram muito escassos.
Dona Maria não é aposentada porque nunca teve sua carteira assinada. Eles sobrevivem com a aposentadoria de seu Marido. Apesar do pouco que ganha nunca negou auxílio financeiro aos seus enteados. No quesito amor, carinho, afeto, respeito seus enteados sempre foram muito bem contemplados e todos nutrem por ele verdadeiro sentimento de pai.

A DESESPERANÇA DE UMA JOVEM MÃE



 ANA MARIA DE ASSIS FAZOLO

A jovem Betânia, afrodescendente, engravidou aos 16 anos e foi abandonada pelo namorado assim que ele ficou sabendo de sua gravidez. Sua filha nasceu com deficiência intelectual e múltipla. Frequenta a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE-DM assiduamente há três anos.

Betânia reside no interior do município e levanta as 03h30min h (manhã). Caminha cerca de 1 km com a criança de quatro anos de idade (às vezes recebe ajuda de familiares), mas a maioria das vezes o faz sozinho até o local onde ela pega o transporte às 05h30min h (da manhã) para estar na APAE às 08h00min para que sua filha receba atendimento especializado. Segundo o relato de Betânia, hoje uma jovem com 21 anos nunca mais irá se relacionar com ninguém, viverá exclusivamente para sua filha e se algum dia a menina vier a conversar e perguntar pelo pai ela lhe dirá que ele morreu.

Ela também relatou sofrer discriminação em casa devido ao problema de sua filha e também da sociedade por sua filha ser a única deficiente da localidade.



Estudo aponta desigualdades raciais no atendimento público



O Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2009-2010 foi debatido em seminário promovido na última quarta-feira (14), pelas comissões de Legislação Participativa e de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. O documento, elaborado pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta que a população negra e parda tem mais dificuldades em acessar o Sistema Único de Saúde (SUS) que a branca e, quando consegue atendimento, é negligenciada.
As pesquisas mostram ainda que os negros e pardos estão mais vulneráveis em relação à segurança alimentar, possuem maior defasagem escolar e recebem menor número de aposentadorias e pensões da Previdência Social. Em relação ao acesso à Justiça, o relatório revela que a maioria dos processos por crime de racismo julgados nos Tribunais Regionais de Trabalho (TRTs) é vencida pelo réu da ação e não pela vítima. 
De acordo com o coordenador da equipe de elaboração do relatório, Marcelo Paixão, falta vontade dos atores políticos de entender que o tema não poderá ser empurrado com a barriga indefinidamente.
Para o deputado Paulo Pimenta, um dos proponentes do seminário, parte da dificuldade em avançar nos temas de igualdade racial é motivada pelo perfil do Congresso Nacional. “Todos sabemos que esta Casa é, por natureza, muito conservadora e resiste muito a pautar determinadas discussões, provocar determinas reflexões que revelem com mais nitidez as contradições deste País”, disse.
Participaram dos debates Rebecca Reichmann Tavares, da ONU Mulheres para o Brasil e Cone Sul; Sônia Fleury, da Fundação Getúlio Vargas; Jurema Werneck, coordenadora da ONG Criola e o secretário-executivo da Seppir, Mário Lisboa Theodoro. 

Assassinatos 
Entre os dados apresentados pelo relatório, está um estudo das principais causas de mortalidade entre a população negra. O documento revela que, nos anos 2006 e 2007, das 96 mil pessoas assassinadas no Brasil, 63% eram pretas ou pardas. Em 2007, o número de assassinatos entre as mulheres negras era 41,3% superior ao observado entre as mulheres brancas. 
O relatório também traz informações sobre os índices de mortalidade materna no País e aponta que, em 2007, a cada 100 mil nascidos vivos, 55 mulheres morreram em decorrência de problemas relacionados à maternidade. As mulheres negras representavam 59% desse total.
O estudo ainda revela que as negras estão em piores condições quanto à realização de exames preventivos e de pré-natal. Entre as mães brancas, 70,1% realizaram sete ou mais consultas, enquanto entre as negras o número é de 42,6%. “Não quer dizer que as coisas estejam às mil maravilhas para os brancos, mas os pretos e pardos são os mais atingidos”, disse Marcelo Paixão. 

Avanços 
A pesquisa também mostra avanços em relação à escolaridade da população negra. Em 20 anos (1988 – 2008), a média de anos de estudos de pretos e pardos, com idade superior a 15 anos, aumentou de 3,6 para 6,5 anos. Em relação ao acesso ao ensino superior, os números são mais expressivos: entre as mulheres negras passou de 4,1% para 20% e entre os homens negros, de 3,1% para 13%. 
Segundo o documento, os dados positivos são frutos da criação de políticas públicas de promoção da igualdade racial. O relatório cita a Lei 10.639/03, que inclui o estudo da História da África, dos africanos, a luta dos negros no Brasil e a cultura negra brasileira no currículo oficial da rede de ensino brasileira, como uma das principais medidas para “enfrentar o tema das relações raciais dentro do espaço escolar”. 
O trabalho mostra, no entanto, que em 2008 quase a metade das crianças afrodescendentes de 6 a 10 anos estava fora da série adequada, contra 40,4% das brancas. Na faixa de 11 a 14 anos, o porcentual de pretos e pardos atrasados subia para 62,3%. 
Esse resultado contrasta com avanços nos últimos 20 anos. A média de anos de estudo de afrodescendentes passou de 3,6 anos para 6,5 entre 1988 e 2008, e a taxa de crianças pretas e pardas na escola chegou a 97,7%. Mesmo assim, o avanço entre negros e pardos foi menor. 
Com 292 páginas, o trabalho é focado nas conseqüências da Constituição de 1988 e seus desdobramentos para os afrodescendentes. Para produzir o texto, os pesquisadores recorreram a bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos Ministérios da Saúde e da Educação e do Sistema Único de Saúde (SUS), entre outros.
Link para o relatório na íntegra:

REFERÊNCIA 
FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES. Estudo aponta desigualdades raciais no atendimento público. Fundação Cultural Palmares. Disponível em: <http://www.palmares.gov.br>. Acesso em: 30/03/2012.



Desigualdade racial no Brasil: um olhar para a saúde
 Alexandre Marinho [1]
Simone Cardoso [2]
Vívian Almeida [3]
O ano de 2011 foi instituído, pela Organização das Nações Unidas, como o Ano Internacional dos Afrodescendentes. O objetivo é auxiliar no combate ao racismo e reduzir, ou até eliminar, as desigualdades econômicas, sociais e raciais sofridas pela população afrodescendente. Buscam-se formas para reduzir as dificuldades no acesso a serviços básicos, como educação e saúde, que intensificam o processo discriminatório. No Brasil, a ausência da variável cor, em grande parte dos sistemas de informação sobre saúde, dificulta a avaliação das condições de saúde e do atendimento aos afrodescendentes.
O Ministério da Saúde (MS), no ano de 2009, na publicação Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, Princípios e Diretrizes assevera que “O recorte racial/étnico é fundamental para a análise dos indicadores de saúde e para o planejamento das ações”.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não simplesmente a ausência de doença”. A saúde é um componente fundamental do nível de bem-estar social e de desenvolvimento humano. Na Constituição Federal Brasileira de 1988 é explícito o direito à saúde de todo e qualquer cidadão, bem como a obrigação de o Estado prover os serviços de saúde e indistintamente, a todos os brasileiros e a todas as brasileiras.
RETRATO SIMPLIFICADO panorama simplificado das condições de saúde da população no Brasil, com recorte racial. Na Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, ano de 2009, percebemos que 48,4% da população brasileira é branca, 6,8% é preta, 43,8% é parda e 0,9% é indígena. Esses números indicam que mais de 50% da população brasileira, atualmente, é composta por não-brancos.
De acordo com as estatísticas do IBGE, os pretos e os pardos, após os indígenas, são aqueles com a maior taxa de mortalidade infantil. Os pretos e pardos têm uma esperança de vida ao nascer bem menor do que os brancos.
ATENÇÃO BÁSICA O perfil do quadro epidemiológico brasileiro, com grande viés racial desfavorável aos afrodescendentes, é, simultaneamente, causa e efeito da conformação do sistema brasileiro de saúde, com as suas virtudes e contradições. Notadamente, ele é resultado dos desequilíbrios da Atenção Básica ofertada pelo SUS.
No que se refere à saúde da mulher afrodescendente, o quadro é muito preocupante. O referido documento do MS, Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – Princípios e Diretrizes, de 2009, relata resultados que deveriam ser inaceitáveis em um país que pretende ter um sistema público de saúde universal, integral, publicamente financiado e, portanto, equânime. Entre outras desigualdades, constatou-se que 5,1% de mulheres brancas não receberam anestesia no parto normal. Nas negras, ocorreu o dobro (11,1%). O SUS paga esse procedimento, com o objetivo de diminuir o medo da dor do parto, para tentar reduzir a frequência de cesarianas. Vemos, no documento, que 77,7% das mulheres brancas foram orientadas para a importância do aleitamento materno e que apenas 62,5% das negras tiveram essa orientação. Enquanto 46,2% das brancas tiveram acompanhantes no parto, apenas 27,0% das negras exerceram tal direito.
Tais percepções são reforçadas no estudo denominado “Desigualdades raciais, sociodemográficas e na assistência ao pré-natal e ao parto, 1999-2001”, de Maria do Carmo Leal, Silvana G. N. da Gama e Cynthia B. da Cunha, publicado na Revista de Saúde Pública da USP, em 2005. Constatou-se que, aproximadamente, 80% das mulheres pretas e pardas fizeram seus partos no SUS. Entretanto, 43,7% das mulheres brancas, tiveram seus filhos em maternidades privadas.
Dependentes do SUS, as mulheres pretas, as pardas e aquelas de menor escolaridade, tiveram menor acesso e pior atenção no pré-natal. Ademais, no momento do parto, foram mais penalizadas, por não serem aceitas na primeira maternidade que procuraram (a malfadada peregrinação), e receberam menos anestesia. As desigualdades foram marcantes, mesmo quando as mulheres de diferentes etnias foram comparadas nas mesmas faixas de renda e de instrução. Um exercício simples, que logramos obter ao processar os dados da referida pesquisa, é revelador. Completar o segundo grau de ensino (ou mais) pode reduzir os riscos de atendimento de má qualidade, avaliado pelas mães, em aproximadamente 70% nas mulheres brancas, em mais ou menos 50% nas pardas e, no máximo, por volta de 30% nas negras. A educação, ceteris paribus, protege menos as mulheres afrodescendentes.
O MS, no citado Relatório de 2009, evidencia que, entre as principais causas de morte de mulheres por câncer no Brasil estão o câncer de mama (aproximadamente 15%) e o câncer de colo de útero (em torno de 7%). O texto aponta que o câncer de colo de útero é duas vezes mais frequente em mulheres negras do que em brancas. Entretanto, verificamos nos dados da PNAD/2008, conforme a tabela 1, que o acesso a exames ginecológicos preventivos básicos é desigual no Brasil.
Outro elemento visível, que ressalta desigualdades na Atenção Básica, é a prestação de serviços de saúde bucal. A PNAD/2008 revela que 44,8% dos brancos foram ao dentista nos últimos doze meses. Esse percentual cai para 35,0% entre os pretos e para 35,8% entre os pardos.
TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS, OUTRA FACE DA DESIGUALDADE A prestação de serviços de Alta Complexidade pode, com certos cuidados, representar as desigualdades na trajetória dos brasileiros de diferentes cores, quando eles procuram atendimento nos diversos níveis de cuidados no SUS. As disparidades na Atenção Básica são carreadas para os níveis de maior complexidade e desaguam na Alta Complexidade. Isso reforça o quadro de iniquidades no SUS. Esse parece ser o fenômeno que ocorre no Sistema Nacional de Transplantes do SUS, um dos maiores do mundo, e que investiu 1 bilhão de reais no ano de 2010.
Apesar de apresentarem necessidades de transplantes semelhantes, o acesso ao sistema de transplantes dos negros e pardos é muito inferior ao da população branca.
No Registro Brasileiro de Transplantes – 10 anos. Análise Quantitativa da ABTO vê-se que 69% dos transplantes de rim realizados entre os anos de 1995 e 2004 destinaram-se à população branca. Também existiria uma situação desfavorável às mulheres em geral, que recebem apenas 39% dos transplantes de rim, apesar de serem ligeira maioria da população. Então, as mulheres negras, por serem mulheres, e por serem negras, têm uma dupla desvantagem nos transplantes. De acordo com nosso estudo Desigualdades de transplantes de órgãos no Brasil: análise do perfil dos receptores por sexo e raça ou cor (Texto para Discussão 1629, Ipea, 2011), esse quadro de desigualdades entre etnias e entre gêneros não é muito diferente para outros órgãos sólidos.
[1] Alexandre Marinho é técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea.
[2]Simone Cardoso e [3] Vívian Almeida são assistentes de Pesquisa do Subprograma Nacional de Pesquisa para o Desenvolvimento (PNPD).

Referência Bibliográfica:
MARINHO, Alexandre; CARDOSO, Simone; ALMEIDA, Vivian. Desigualdade racial no Brasil: um olhar para a saúde. Revista Desafios do Desenvolvimento. Edição 69, Ano8, 2011. Disponível em: em: <http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2688:catid=28&Itemid=23>. Acesso em: 30/03/2012.

A desigualdade racial na grande mídia

Uma pesquisa realizada pelo Observatório Brasileiro de Mídia (OBM), sob encomenda do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, analisou 972 matérias publicadas nos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo e 121 nas revistas semanais Veja, Época e IstoÉ ­ 1.093 matérias, no total ­ ao longo de oito anos, entre 1º/1/2001 e 31/12/2008.
A agenda da promoção da igualdade racial e das políticas de ações afirmativas foi acompanhada em torno dos seguintes temas: cotas nas universidades, quilombolas, ação afirmativa, estatuto da igualdade racial, diversidade racial e religiões de matriz africana. Alguns dos resultados:


1. Em graus diferentes, os jornais observados se posicionaram contrariamente aos principais pontos da agenda. As políticas de reparação ­ ações afirmativas, cotas, Estatuto da Igualdade Racial e demarcação de terras quilombolas ­ tiveram o maior percentual de textos com sentidos contrários: 22,2%.


2. As reportagens veicularam sentidos mais plurais do que os textos opinativos, que, com pequenas variações, se posicionaram contrários à adoção das cotas, à aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e à demarcação de terras quilombolas. A argumentação central é que promovem racismo. Os textos opinativos no Estadão (78,6%) e em O Globo (63,6%) criticaram o Decreto n.º 4.887/2003, que regulamenta a demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. O principal argumento foi que o critério da autodeclaração é falho e traz insegurança à propriedade privada.

3. A cobertura sobre ações afirmativas foi realizada, basicamente, em torno da política de cotas: 29,3% dos textos. Outros instrumentos pouco foram noticiados. A cobertura oferecida por O Globo merece um comentário à parte. O jornal carioca dedicou 38 editoriais aos vários temas pesquisados, dos quais 25, ou 65,8%, trataram especificamente de "cotas nas universidades". Ainda que os principais argumentos contrários ­ "as cotas e ações afirmativas promovem racismo" (32%) ou "os alunos cotistas `baixariam' o nível dos cursos" (16%) ­ não tenham se confirmado nas instituições que implementaram as cotas, a posição crítica de O Globo não se alterou nos oito anos pesquisados.

4. Embora a maioria dos estudos e pesquisas realizados por instituições como IBGE, Ipea, Seade, OIT, Unesco, ONU, UFRJ, Ibope e DataFolha, no período analisado, confirmem o acerto das políticas de ação afirmativa, apenas 5,8% dos textos publicados nos jornais noticiaram e debateram os dados revelados. Esses estudos e pesquisas trataram de assuntos como: menor salário de negros frente aos brancos; menor presença de negros no ensino superior; negros como maiores vítimas da violência; pouca presença de negros em cargos de chefia, entre outros.

5. O noticiário das revistas semanais teve características muito semelhantes às encontradas nos jornais. Os textos com sentidos contrários às políticas de reparação (26,4%) foram em maior percentual do que aqueles com viés favorável (13,2%). Da mesma forma, a cobertura se concentrou nos programas de cotas: 33,1%.

Os resultados da pesquisa realizada pelo OBM denunciam um estranho paradoxo. Enquanto a grande mídia tem se revelado cada dia mais zelosa com relação ao que chama de liberdade de imprensa (equacionada, sem mais, com a liberdade individual de expressão), o mesmo não acontece com a defesa de direitos fundamentais, como a reparação da desigualdade e da injustiça histórica de que padece a imensa população negra do nosso país.

Estaria a grande mídia mais preocupada com seus próprios interesses ­ disfarçados sob a bandeira da "liberdade de expressão" ­ do que com o interesse público e a defesa de direitos humanos fundamentais?
Venício A. de Lima é autor, com Bernardo Kucinski, de Diálogos da Perplexidade ­ Reflexões Críticas sobre a Mídia; Editora Fundação Perseu Abramo, 2009.


REFERÊNCIA

LIMA, Venício. A desigualdade racial na grande mídia.  Revista TEORIA E DEBATE. Disponível em: <http://www.teoriaedebate.org.br/colunas/midia/desigualdade-racial-na-grande-midia>. Acesso em: 30/03/2012.



Percepção de racismo em Domingos no contexto
Urbano e Rural
Ana Maria de Assis Fazolo[1]
Ana Maria da Silva[2]
A pesquisa exploratória realizada pelas participantes do grupo 3, Ana Maria de Assis Fazolo e Ana Maria da Silva, aborda a temática preconceito racial na visão  dos moradores do município de Domingos Martins. A população escolhida foi em sua maioria frequentadores da Biblioteca Municipal de Domingos Martins e estudantes do Colégio Polivalente. A pesquisa foi realizada utilizando-se questionários semi-estruturados que foram respondidos por 20 pessoas com faixa etária média de 25 anos.
De modo geral, foi observado nesta pesquisa que os jovens estão expostos às situações preconceituosas no ambiente escolar. São comuns as brincadeiras e chacotas com aqueles que estão muito acima ou muito abaixo do peso, com os que têm traços físicos distintos da maioria, enfim, no ambiente escolar a teia de relações construídas nem sempre é harmoniosa.
Foram adotadas algumas categorias utilizadas pelo IBGE, sendo que a amostra foi constituída de 70%de jovens que se autodeclararam pardos; 5% de jovens que se autodeclararam pretos; 25% de jovens que se autodeclararam brancos.
Apesar das leis que tratam o racismo como crime inafiançável, aplicando inclusive penas de reclusão, ainda é bastante expressivo o número de pessoas que dizem já ter presenciado ou sofrido constrangimento em conseqüência de sua raça.
Foram incluídas perguntas no questionário semi-estruturado, com intuito de saber qual a percepção de jovens com relação à temática preconceito racial enfatizando o preconceito de cor, propriamente dito.
Para verificar a compreensão desses jovens com relação a sua raça fizemos a seguinte pergunta: P1 - Como você se considera?  1) Pardo; 2) branco; 3) preto; 4)amarelo; 5) indígena. 70% escolheram a opção (1); 25% escolheram a opção (2); 5 % escolheram a opção (3).
Quanto a ter presenciado alguma tipo de preconceito racial em seu cotidiano, fizemos à pergunta “Você já presenciou alguma cena de discriminação racial”? A grande maioria dos entrevistados comentou que já sofreram discriminação racial tanto no ambiente escolar quanto no local de trabalho e também comunidade em geral.
Digno de nota foi o comentário de uma jovem senhora sobre discriminação racial:
“Eu sou parda, minha mãe é branca e meu pai é negro [...] os meus irmão são clarinhos eu sou mais morena [...] quando fui casar pensei “preta basta eu, vou casar com um alemão”. Foi aí que o meu sogro falou: “lá vem esta negrinha estragar o sangue da nossa família”.
È importante destacar o depoimento de jovem entrevistado que comentou sobre a discriminação no local de trabalho:
“[...] Eu trabalhava numa pousada, quando tinha que realizar alguma tarefa pesada, como subir as escadas com peso esta tarefa era designada para meu colega e eu [...] porque éramos negros. Eles acham que negro é feito para o serviço braçal.”
Além disso, acrescentou ele: “ percebia o racismo no olhar das pessoas”.
De acordo com as respostas à pergunta se já haviam presenciado cenas de preconceito, todos os vinte entrevistados disseram que em algum momento já presenciaram cenas de discriminação racial tanto no trabalho quanto no ambiente escola, podemos perceber que cenas de preconceito são corriqueiras.
Observando as respostas nota-se que em ambos os sexos há uma porcentagem balanceada da percepção de discriminação onde outras pessoas sofreram o ato. Todavia esse percentual é alto, quando se trata de algo que deveria ter sido erradicado do Brasil há muitos anos. Observou-se que essa percepção é maior entre os pardos, pretos sendo menos percebido entre os brancos. A cor é uma variável que interfere na intensidade com que o racismo é percebido.
Em relação à questão se já foi vítima de preconceito racial e onde isso comumente ocorreu os resultados mostram que o percentual de discriminação sofrido pelos entrevistados é alto. E o que mais causa alarde é isso ser tão comum nos ambientes em que esses jovens freqüentam rotineiramente.
A percepção de pardos e pretos sobre racismo é maior que aquela demonstrada pelos brancos porque são eles os que no cotidiano, em suas relações pessoais e sociais, se deparam com vários indícios que os remete a essa temática. Os brancos têm menor percepção do racismo porque não é algo que os afeta diretamente, então imaginam que esse é um problema com pouca relevância atualmente.
Os brasileiros evitam expressar verbalmente a existência do preconceito em suas ações cotidianas, mas a realidade é que o preconceito é um problema presente no Brasil, estando muitas vezes associado ao racismo e discriminação.
O trabalho mostrou que 100% dos jovens pesquisados já presenciou alguma cena de discriminação racial, esse é um dado que só vem corroborar o lamentável quadro de preconceito de raça que ainda é arraigado na nossa sociedade.

[1] Coordenadora do Colégio polivalente. Graduação: Licenciatura Plena em Pedagogia para as séries iniciais do ensino fundamental; Pós-graduação: Gestão Educacional Integrada.
[2] Bibliotecária e estudante de ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo.




A Questão
É difícil imaginar um negro como Barack Obama sendo eleito presidente - do Brasil. Dos Estados Unidos, talvez. Lá um negro já chegou a secretário de Estado, e foi substituído no cargo por uma negra. Desculpe: afro-descendente. Pelo menos não escrevi "um negão como Barack Obama", ou, para mostrar que não sou racista, "um negrinho".
A diferença entre um país e outro é essa. Lá o racismo é uma questão nacional. Aqui uma ficção de integração dilui a questão racial. E se a questão não existe, se ninguém é racista, por que nos preocuparmos com denominações corretas ou incorretas? Só quando a ficção é desafiada, como no caso das cotas universitárias, é que aparece o apartheid que não se reconhece.
Um dos marcos das relações raciais nos Estados Unidos não foi a primeira vez em que um negro interpretou um herói no cinema, provavelmente o Sidney Poitier. Nem a primeira vez em que um negro e uma branca, ou vice-versa, namoraram na tela. Foi a primeira vez em que um negro foi o vilão do filme. Colin Powell e Condoleezza Rice, que chegaram a secretários de Estado, e o próprio Obama, devem suas carreiras a esse vilão histórico, que significou o fim dos estereótipos e a aceitação, sem melindres, de que negro também pode ser ruim, igual a branco. Se a cor da pele não determinava mais que ele fosse sempre retratado como um inferior virtuoso ou uma vítima, também não o descriminava de outras maneiras. Powell e Rice levaram essa reversão de esteréotipos ainda mais longe. Os dois são do partido republicano. Como Clarence Thomas, único juiz negro da Suprema Corte americana que também é um dos seus membros mais conservadores.
Claro que a cor da pele vai ser um fato na eleição ou não do Obama, como o fato de ser mulher vai ajudar ou não a Hillary. Por isso mesmo, sua possível eleição seria uma prova dessa transformação da questão racial no país, uma vitória numa guerra por direitos iguais que lá - ao contrário do Brasil - nunca foi disfarçada, ou desconversada. Aqui a miscigenação significou que alguns quase-negros, ou só um pouco afro-descendentes, chegassem ao poder, mas miscigenação entre nós não tem significado integração por vias naturais, e sim apenas outra forma de despolitizar e adiar a questão.
Obama será o candidato dos democratas? Estão comparando sua campanha com a de Bob Kennedy, pelo entusiasmo que provoca numa faixa de idade que não se interessava tanto por política desde a mobilização contra a guerra do Vietnã. Li que 40 por cento dos americanos que podem votar este ano nunca conheceram outro presidente que não fosse um Bush ou o Clinton, e Hillary seria outro Clinton nessa dança de dinastias. Assim, Obama seria uma novidade em mais do que o sentido racial. Como se precisassem outros.
Na comparação com Bob Kennedy, claro, ninguém ainda lembrou (pelo menos não sem bater na madeira) que aquela novidade terminou numa poça de sangue, no chão de uma cozinha de hotel. Batamos todos na madeira.
*
"O Mundo É Bárbaro - E o que Nós Temos a Ver Com Isso"
Autor: Luis Fernando Verissimo
Editora: Objetiva

A Inclusão e a Educação
Ana Maria de Assis Fazolo[1]
Vivemos num país “onde ainda estão impregnados estereótipos acerca do papel do negro na sociedade” (DIMENSTEIN, 2010), mas se trilharmos pelo caminho da Educação, as oportunidades de ascensão social dos negróides pode ser bem diferentes das atuais.
O que é preciso para obter a inclusão científica do negro/a:
·         Estrutura Familiar Sólida;
·         Acesso às Universidades;
·         Acesso à Centros de Pesquisa;
·         Colocar em evidência a Cultura Africana;
·         O Negro ter Representatividade nos Livros Didáticos;
·         Mudança na Estrutura Educacional, sobretudo na escola;
·         Trabalhar a auto-estima das crianças e adolescentes;
·         Aprimoramento dos Professores para “tratar o Racismo em nossa Sociedade”;
·         Desmistificar o estereótipo de que o Negro está Predeterminado para um “determinado tipo de Profissão”;
·         Educação voltada para a Promoção do Negro e da Igualdade Racial;
·         Investimento na Formação de Pessoas;
·         População Negra precisa estar mais presente no desenvolvimento do país, inclusive ocupando “Cargos de Destaque”.
·         Mais divulgação do que é produzido em nível de Pesquisa Científica com pequenos investimentos.
Segundo dados divulgados em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil investe 1% em Pesquisa e Desenvolvimento. No ano de 2000 o valor investido era de R$12.000.000,00 bilhões (1,02 do PIB), em 2008 a cifra de investimentos passou para R$32.700.000,00 bilhões (1,09 do PIB), mas o porcentual investido ainda não é suficiente para alavancarmos no campo da Pesquisa Científica.
Gilberto Dimenstein, referência em Jornalismo e Educação diz que:
“Chegamos ao século XXI com um problema de Educação sério. Meninas e meninos que não sabem escrever direito, nem entender um texto, que não conseguem ter conhecimentos básicos em matemática e ciência”.
Na Visão de Dimenstein:
[...] a educação é o grande movimento abolicionista contemporâneo, porque exige um trabalho tão profundo para que você consiga atrair os talentos para a Escola Pública. É a educação que garante a autonomia das pessoas. E não existe forma mais grave de escravidão que a da ignorância. E os Negros têm uma vulnerabilidade histórica.

O grande papel da Educação é gerar seres autônomos, capazes de saber o que elas querem fazer de sua vida, e compreender o que é relevante para ela.
Ainda no olhar de Gilberto Dimenstein, o quilombo de hoje é a escola pública, para o bem e para o mal. Onde você pode ter a grande reação negra de autonomia e liberdade? È na Escola Pública.

REFERÊNCIAS
1 DIMENSTEIN, Gilberto. A educação é o grande movimento abolicionista contemporâneo. Raça Brasil. Ed. 153, p.50-63, São Paulo, 10/2011 (entrevista concedida a Brunno Braga).
1 HENDERSON, Alexandre. A inclusão científica pela educação. Raça Brasil. Ed. 153, p.50-63, São Paulo,10/ 2011 (entrevista concedida a Alexandre Maio).



[1] Graduação: Licenciatura Plena em Pedagogia para as séries iniciais do ensino fundamental; Pós-graduação: Gestão Educacional Integrada.


EM DOMINGOS MARTINS TEM DESCENDENTES DE ESCRAVOS E TAMBÉM MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE ORIGEM AFRICANA, TEM SIM, SENHOR!
Ana Maria de Assis Fazollo
A srª Luiza (nome fictício) faleceu aos 114 anos sem nunca ter ficado doente. No início de sua vida ela viveu segundo sua neta Maria (nome fictício), em Minas Gerais. Lá ela acredita que sua avó deixou filhos não soube precisar se vivos ou mortos, pois ainda vivia numa fazendo com ex-escravos e teve alguns relacionamentos. Ainda nesta fazenda ela retirava o leite materno e deixava em uma cumbuca para sua irmã alimentar seu/sua filho/a. Sua irmã tomava o leite materno e oferecia para o bebê água. Dona Luiza nunca usou um calçado e suas vestimentas eram compridas até os pés. Ela casou-se com o Sr. José (nome fictício) índio de cor clara que segundo Maria foi pego a laço na região de Guarapari. Seu José batia muito em dona Luiza e esta trabalhava na roça e andava muito pelas estradas. Aqui ela foi mãe de quatorze filhos sendo que faleceram. Seus filhos falecidos comiam tecidos, talvez por esse motivo faleceram. Um de seus filhos faleceu aos 103 anos de idade e também nunca ficou doente. Segundo Maria morreu de velhice assim como sua avó dona Luiza. Conforme dona Maria relatou todos os seus netos a chamavam de mãe Luiz e o avô de pai José.
Sua neta Maria em seus setenta e três anos de idade ainda não é aposentada. Vive de cuidar de hortas e quintais. “Se tiver sol tem dinheiro, se chover não tem”. Ela disse que seu marido não ajuda financeiramente e ainda tem outras namoradas. Se sente revoltada, pois disse que ele soube fazer doze filhos, mas que nunca se preocupou em ajudá-la a criá-los. Sua família e bastante extensa, tem vinte e seis netos e seis bisnetos.
Dona Maria é uma grande conhecedora de ervas medicinais muitas delas aprendeu a reconhecê-las e para que doenças servem com sua mãe Luiza e com sua mãe Ana (nome fictício). E muitas outras ervas aprendeu a reconhecê-las com ajuda dos livros de ervas medicinais. Dona Maria reside aqui em Domingos Martins há cinqüenta anos.
Dona Maria ainda desempenha a bela missão de cuidar da horta medicinal da Pastoral da Saúde e de recolher ervas das matas aqui existentes. Numa próxima oportunidade listarei as ervas com suas respectivas finalidades no trato das doenças.


Vivendo a Realidade
Maria de Oliveiras Fardin[1]
Trabalho há dois anos no Centro de Educação Infantil na comunidade Vila Verde. Aqui moram famílias de classe média baixa de maioria pardos e negros. Quando chequei para trabalhar todos me receberam de braços abertos e com o passar do tempo fui conhecendo cada família da comunidade, suas dificuldades, frustações e até seus problemas particulares. A comunidade não tem uma infraestrutura adequada, faltam supermercado, área de lazer, posto de saúde, agentes de saúde, etc. Vila Verde fica distante da sede do município e quando as pessoas precisam de qualquer coisa têm que se deslocar até o centro de Domingos Martins. As crianças da Vila Verde não contam com nenhum projeto. Os projetos que existem para as crianças estão localizados no centro que, por ser distante, impede os pais de levarem os filhos para participar e ficando na rua no horário que não estudam. As autoridades não ligam para este problema. Já na área de saúde é pior. O local não conta com agente ou posto de saúde. Toda informação que o agente de saúde deveria passar sou eu quem acaba passando. Eu, como gestora, faço com muito carinho, mas acho que deveria ter essa pessoa responsável. As famílias se sentem muito discriminadas, as mulheres daqui procuram a escola sempre que tem um problema particular ou mesmo para obter informações. Elas me procuram quando brigam com maridos ou se separam. Querem que eu ajude e me contam tudo o que se passa em casa. Creio que elas confiam em mim para contar seus problemas. Já outras me procuram para dizer que se sentem discriminadas por serem negras, pobres, e analfabetas e por isso não conseguem nada. Pedem para eu ajudar a esclarecer dúvidas sobre vários assuntos, procuram informações sobre bolsa família, exames, etc. O que mais me surpreendeu foi um pai de uma aluna que chegou um dia chorando na escola dizendo que sua esposa tinha pedido a separação. Conversei com ele e quando se acalmou foi embora. Durante sua separação ele começou a beber e a chorar muito. Após seis meses, em um dia bem cedo, chegou ele todo feliz me procurando e dizia que precisava falar comigo. Atendi e ele me disse todo feliz que sua esposa tinha voltado, respondi que ficava muito feliz por isso, mas quem iria ficar mais contente era a filha deles. As famílias, especialmente as mulheres da comunidade, vêem a escola como um ponto de referência e eu acho isso muito importante, mas ao mesmo tempo penso como as pessoas da comunidade são deixadas de lado. Por esse motivo é que tudo que posso fazer para está comunidade estou fazendo. Agora estamos nos unindo para reivindicar melhorias para a comunidade junto ao poder público, como um posto de saúde, agente de saúde, etc. As famílias se sentem discriminadas porque são pobres e negras. Por mais que falem que não existem preconceito entre brancos e negros, isso não é a nossa realidade. Negros e pobres são discriminados sim no nosso município.


[1] Maria de Oliveiras Fardin é Gestora do Centro de Educação Infantil na comunidade Vila Verde. Graduada em pedagogia e pós-graduada em educação no campo



VOCÊ SABIA QUE O HOMEM MAIS VELHO DO BRASIL É NEGRO E É BRASILEIRO!
Ana Maria de Assis Fazolo[1]

Ele mora num asilo na cidade de Salvador – BA.
Sua infância passou “saltando de cima da praia do Porto da Barra”, fazia essas peripécias dia todo e quando chegava a casa levava aquela “surra da mãe com cipó caboclo”. (RODRIGUES, 2011)
Segundo ele “Na adolescência era pé de valsa dançava nas festas promovidas pelo pai – que era músico – na própria casa. Seu Deraldo era também um grande “galanteador”, aliás, ate hoje conserva essa característica aos 116 anos.
Em sua caminhada pela vida, passou por caminhos tortuosos “perambulou pelas ruas de Salvador, dormiu embaixo de marquises até ir parar no quartel do Exército, onde se tornou um excelente cozinheiro. “É chamado até hoje por algumas pessoas de “capitão Magno”.
Hoje mora no Asilo São Lázaro em Salvador-BA. Ele se diz feliz com os amigos do asilo e com sua mãe, referindo-se a Presidente do asilo Dona Terezinha que o retirou da rua e que tem verdadeira adoração.
Seu Deraldo não toma nenhum tipo de medicamento, “não usa bengala nem óculos, sabe ler e ainda faz tudo sozinho”. Gosta de dormir cedo e que sonha sempre. “A memória, às vezes falha, mas não compromete em nada seu raciocínio de homem simples, que viu e viveu muitas coisas.
Nosso Centenário ainda pretende viver mais cinqüenta anos, brinca ele “dizendo que ainda não morreu porque nasceu dia de finados e que os defuntos não gostam dele”.
Pasmem! Mas Seu Deraldo ainda não foi inscrito no livro Guinnes Book. Segundo o livro o homem mais velho do mundo é um japonês com cento e quatorze anos.
Seu Deraldo tem certidão de nascimento para comprovar sua LONGEVIDADE.
E para encerrar faço uso de suas palavras:
“Queria uma mulher para gostar muito, que goste de caprichar com as coisas de casa e que não seja ciumenta, porque a pessoa que ama não tem ciúme, né”?

REFERÊNCIA
1 RODRIGUES, Marla. O homem mais velho do mundo. Raça Brasil. Ed.160, p.61-62 – São Paulo, julho/2011.


[1] Graduação: Licenciatura Plena em Pedagogia para as séries iniciais do ensino fundamental; Pós-graduação: Gestão Educacional Integrada.


Beleza (e consciência) negra em destaque

Leila, Deise, Silvia e Vera. Mulheres negras, mulheres lindas, mulheres que ousaram quebrar barreiras, transgredir os padrões de beleza, desafiar os limites impostos por uma sociedade preconceituosa, recalcada, acostumada a fazer valer os interesses de uma "maioria" branca.

Leila, Deise, Silvia e Vera. Mulheres negras, mulheres lindas, mulheres que ousaram quebrar barreiras, transgredir os padrões de beleza, desafiar os limites impostos por uma sociedade preconceituosa, recalcada, acostumada a fazer valer os interesses de uma "maioria" branca. Mas, espera, quem é maioria por aqui? Quem representa, há tempos, mais da metade da população brasileira?
Essas quatro mulheres, em épocas diferentes, conseguiram mudar a história, a rotina, o olhar das outras pessoas sobre a atitude, a coragem, a autoestima, o orgulho de ser negro, não somente no Brasil, mas em todas as partes do mundo. Nas passarelas, elas foram às grandes representantes da expressão que, hoje, estamos acostumados a dizer, ouvir e a afirmar de cabeça erguida, porém, apenas no mês de novembro: a Consciência Negra.

Isso mesmo, comparo as quatro misses destaques dessa edição aos mais renomados e famosos militantes da causa negra, como o artista e político Abdias Nascimento, os atores Milton Gonçalves e Zezé Mota, a cantora Sandra de Sá, e o professor Eduardo de Oliveira, autor do Hino à Negritude. Cada um deles, a seu modo e talento, contribuiu (e contribui) para que os negros brasileiros não sejam alijados de sua cultura e raízes, de seu passado e, principalmente, de um futuro promissor, baseado em conquistas sociais, respeito às diferenças e igualdade em todos os sentidos.
Preconceito? Sim, esse "câncer" social também não deixou as misses em paz. Em comum, todas sofreram com a desconfiança alheia, como se as passarelas fossem exclusivamente para loiras e morenas. Souberam, no entanto, reverter a situação com muita classe, elegância, ética e cultura. Leila, Deise, Silvia e Vera... Mulheres da "Raça", mulheres lindas, mulheres cheias de Consciência Negra.

REFERÊNCIA
1 REZENDE, ANDRÉ.   Beleza (e consciência) negra em destaque. Raça Brasil. Edição 160, São Paulo, p.50-63,  novembro 2011. 


Racismo-um texto de Luís Fernando Veríssimo
Publicado no blog República de Fiume

- Escuta aqui, ó criolo…
- O que foi?
- Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.
- E não existe?
- Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca… É, não adianta. Negro quando não faz na entrada…
- Mas aqui existe racismo.
- Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia… E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita.
Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados! E ainda se queixam!
- Eu insisto, aqui tem racismo.
- Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco?
- Não, mas…
- Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo?
- Eu sei, mas…
- Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.
- É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.
- Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm clubes de vocês? Vão querer entrar nos nossos também? Pera um pouquinho.
- Mas isso é racismo.
- Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós estamos falando do crioléu começar a freqüentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo.
- Sim, mas…
- Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre.
- Pois é, mas…
- Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite.
- Pois então. O …
- Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.
- Mas…
- E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.
- É, mas…
- E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe o diálogo.
- Sim, mas…
- E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso que tu faz bem.


REFERÊNCIA
1 VERÍSSIMO, Luís Fernando Racismo. Racismo. Blog República de Fiume. Disponível em: <http://fiume18.blogspot.com/2008/10/onde-est-o-racismo.html>. Acesso em: 04 dez. 2011.



Mostra de Cinema
“Mostra Tela Negra: O Cinema do Blaxploitation”, que acontece no CCBB Rio de Janeiro (de 1º a 13 de novembro) e no CCBB São Paulo (de 3 a 13 de novembro) e no Cine SESC (SP, de 18 a 24 de novembro). Esse novo gênero cinematográfico, criado por diretores negros, que refletia os sentimentos da juventude, as conquistas do movimento dos direitos civis e a força política do movimento dos Panteras Negras. Nele, os heróis e anti-heróis negros eram os protagonistas das suas próprias histórias.

Shaft na África
 O Chefão do Gueto
 Rififi no Harlem
Superfly
Sweet Sweetback Baadasssss Song

Esse novo gênero cinematográfico, criado por diretores negros, que refletia os sentimentos da juventude, as conquistas do movimento dos direitos civis e a força política do movimento dos Panteras Negras. Nele, os heróis e anti-heróis negros eram os protagonistasdas suas próprias histórias.  Este cinema marginal ligado à música soul que levou todos os clichês às últimas conseqüências. A mostra Tela Negra: o Cinema do Blaxploitation promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil em correalização com o SESC São Paulo, toma as telas em novembro no Rio de Janeiro e em São Paulo.  Fazendo uma homenagem ao gênero que teve grande influência em Hollywood e ao redor do mundo.
Tela Negra: o Cinema do Blaxploitation terá debates sobre a influência do cinema afro-americano dos anos 70 na construção da imagem negra internacional e no Brasil, além de uma palestra sobre o surgimento e a inovação do gênero blaxploitation. Um cinema que refletiu a face lúdica da efervescência da cultura negra americana e os movimentos de libertação africana pelo mundo nos anos 70, se fazendo sentir até hoje no cinema, na moda e na cultura hip-hop. Os enredos dos filmes captaram os anseios da população negra de alcançar uma ocupação verdadeira de todos os espaços sociais. “Nessa época, o filme que teve maior impacto no Brasil foi Wattstax, documentário musical que causou furor entre a juventude black carioca e paulista”, declaram os curadores Vik Birkbeck e Arndt Roskens.
O Blaxpoitation permitiu a criação de um Star system Black, com o surgimento do protagonista negro no cinema americano.  O trabalho de atores como Pam Grier, Tamara Dobson, Richard Pryor, Ron O´Neil, Max Julien, Richard Roundtree e Harry Belafonte abriu caminho para estrelas como Eddie Murphy, Danny Glover, Samuel Jackson, Denzel Washington, Halle Berry, Oprah Winfrey e Whoopy Goldberg. Os filmes ofereceram a possibilidade da juventude negra se identificar pela primeira vez com a imagem na tela. As influências desse movimento são facilmente percebidas em várias gerações de cineastas americanos dos quais, o mais conhecido, é Quentin Tarantino com filmes como Pulp Fiction, Kill Bill e Jackie Brown. Os tipos criados pela blaxploitation foram incorporados por Hollywood e recuperados para a criação de personagens blockbusters como Rambo e Rocky, além de inúmeras super-heroínas. Também pode ser visto no trabalho de artistas de hip hop como Snoop Dogg, que sampleou as trilhas de clássicos do blaxploitation como The Mack e Superfly. 
 REFERÊNCIA
Mostra Tela Negra: O cinema do Blaxploitation. Disponível em: <http://almanaquevirtual.uol.com.br/ler.php?id=27855&tipo=&MOSTRA+TELA+NEGRA:+O+CINEMA+DO+BLAXPLOITATION>. Acesso em: 09 dez. 2011.



LISTAGEM DE FILMES/LIVROS/SITES/MÚSICAS REFERENTES AO MÓDULO 3

HISTÓRIA DA AFRICA: DAS CIVILIZAÇÕES E ORGANIZAÇÕES PRÉ-COLONIAIS A INTERVENÇÃO EUROPÉIA.
FILMES:
  •          Diamante de Sangue (2006. Dir.: Edward Zwick)
  •          Impérios da áfrica Antiga (Documentário Discovery Channel)
  •   Pirâmides do Egito, Segredos Revelados (2002. Documentário National Geographic)
CONTRIBUIÇÕES PARA O BRASIL: OS POVOS AFRICANOS E A CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA CONSTRUÇÃO DO PAÍS.
FILMES:
  •          Chico Rei (1985. Dir.: Walter Lima Jr.)
SITE:
  •           WWW.bn.br – Acesse o Projeto Tráfico de Escravos e Escravidão, criado pela Unesco, em 1999)
OS QUILOMBOLAS ONTEM E HOJE: DE PALMARES ÀS COMUNIDADES QUILOMBOLAS REMANESCENTES.
FILMES:
  •          Quilombo (1984 – Dir.: Cacá Diegues)
  •          Quanto Vale ou é por Quilo? (2005. Dir.: Sérgio Bianchi)
LIVROS:
  •          Quilombos – Resistência ao escravismo, Clovis Moura, Ática
  •          Palmares – Luiz Galdino, Ática
MÚSICAS:
  •          “Quilombo, o Eldorado Negro”, Gilberto Gil e Waly Salomão
  •          “Zumbi”, Caetano Veloso
HERANÇAS CULTURAIS: MANIFESTAÇÕES FUNDAMENTAIS PARA A FORMAÇÃO DO BRASIL.
FILMES:
  •          Atabaques Nzinga (2008. Dir.: Octávio Bezerra)
  •          Insurreição Rítmica (2008. Documentário. Dir: Benjamim Watkins)
  •       O Mistério do Samba (2008. Documentário – Dir.: Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda)
  •     Mestre Bimba, A Capoeira Iluminada (2002 – Documentário. Dir.: Kuiz Fernando Goulart)

SITES:
ANCESTRALIDADE E RELIGIOSIDADE: A ALMA DA ÁFRICA NO BRASIL E O ENTENDIMENTO DOS SINCRETISMOS.
FILMES:
  •         Na Rota dos Orixás (1998. Documentário – Dir.: Renato Barbieri)
  •         Fé (1999. Documentário. Dir.: Ricardo Dias)
LIVROS:
  •          Guia das Religiões Populares do Brasil, Eneida Duarte Gaspar, Pallas Editora.
  •          Lendas Africanas dos Orixás, Pierre Fatumbi Verger, Ed.Corrupio.
SITES:
ABOLICIONISMO E LEI ÁUREA: DA REBELDIA ESCRAVA Á ABOLIÇÃO E SUAS CONSEQUENCIAS NOS DIAS ATUAIS.
FILMES:
  •          Preto e Branco (2005. Dir: Carlos Nader)
  •          Alguém falou de racismo? (2003. Dir.: CECIP/Fundação Cultural de Palmares/Minc)
MÚSICAS:
  •          “Lavagem Cerebral, Gabriel, O Pensador
  •          “A mão da Limpeza”, Gilberto Gil
LIVROS:
  •          Racismo Cordial, Cleusa Turra e Gustavo Venturi (org.), Ed. Ática
  •          Clara dos Anjos, Lima Barreto
  •          Longe dos Olhos, de Ivan Jaf, Ed. Ática
SITE:
FIM DO ESCRAVISMO: DA DISCRIMINAÇÃO E EXCLUSÃO Á LUTA PELA IGUALDADE E REPRESENTATIVIDADE.
FILMES:
  •          Vista a Minha Pele (2003. Dir.: Joel Zito Araújo)        Retrato em Preto e Branco (1993 – Dir.: Joel Zito Araújo)
  •          Um Grito de Liberdade (1987 – Dir.: Richard Altenborough)
LIVROS:
  •          A cor do Preconceito, Carmem Lucia Campos, Ed. Ática
  • ·         Racismo no Brasil, Lilia Moritz Schwarcz, Publifolha

SITES:       
IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA: O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL E A DEFESA DE AÇOES AFIRMATIVAS.
FILMES:
  •          O que é Movimento Negro (1998. Documentário. Núcleo de Estudos Negros)
  •          Filhas do Vento (2004. Dir.: Joel Zito Araújo)
  •         O Povo Brasileiro (2000. Documentário. Dir.: Isa Grinspum Ferraz)
MÚSICAS:
·         “Um jeito pra Ninguém Botar Defeito” Samba – Enredo de 1986 da Escola Imperatriz Leopoldinense
  •          “País da Fantasia” – Cidade Negra
  •          “Negros” Adriana Calcanhotto.


VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO CONTEXTO DE DOMINGOS MARTINS

A violência contra a mulher é um fato real em nosso país, apesar de termos avançado nos últimos anos em relação à questão da redução da violência de gênero, ela continua alta e precisa de Políticas Públicas mais enérgicas para combatê-la. As mulheres brasileiras persistem na cultura de não registrar Boletim de Ocorrência contra seu agressor que geralmente é o seu marido e/ou companheiro. Estudos indicam que em cada cinco mulheres que são agredidas apenas uma formaliza a denúncia.


Sendo a violência contra a mulher um problema nacional, o nosso Município também faz parte deste contexto. Temos registrado na Delegacia de Polícia Civil vinte e cinco casos (25) no período compreendido de 01/01/2011 a 06/08/2011 e a motivação da maioria dos casos é o alcoolismo. Também sabemos que grande parte das agressões não é registrada e a estimativa é de que em cada cinco agressões apenas uma é registrada. Estudos indicam os fatores que levam as mulheres a não denunciarem seus agressores.
• Receio de como será atendida já que o Município não possui Delegacia Especializada e nem se quer um profissional que tenha essa especialização;
• Medo que as mulheres agredidas possuem de não conseguir manter o sustento próprio e dos filhos;
• Medo de não ser ouvida e de como será recebida pelo profissional responsável pelo acolhimento;
• De ser responsabilizada pelo fim do relacionamento;
• Pelas atitudes a serem tomadas às vezes serem morosas, permitem em alguns casos, que o agressor cometa o homicídio.


Em relação ao homicídio temos registrado em 2009 um caso em que o agressor foi enquadrado na Lei Maria da Pena, mas ao conseguir o Alvará de soltura cometer o crime. 


Sendo que este caso a denúncia partiu da filha adolescente do casal, após não suportar mais o sofrimento da mãe.


Em setembro/2011 tivemos um caso inverso, após denunciar o companheiro por violência doméstica e o mesmo ser solto e continuar a ameaçando, uma jovem de 19 anos acabou por cometer homicídio.


Em nosso Município há um índice bem relevante de crianças e adolescentes que sofrem abuso sexual perfazendo um total de 13 casos de abril/2009 a abril/2011, conforme dados colhidos no Conselho Tutelar, sendo que estes crimes numa porcentagem bem considerada são cometidos pelos familiares e as motivações são: Separação dos pais, alcoolismo e uso de drogas ilícitas.


Os instrumentos para coibir à violência contra os agressores a serem implementados e consolidados pelo Poder Público são:
• Projetos de Leis mais agressivos contra os agressores e cumprimento das mesmas; bem como a ideal utilização dos mesmos;
• Delegacias equipadas e profissionais especializados tanto no âmbito das Polícias e quanto da saúde;
• Publicidade como a publicada pela Secretária Especializada de Políticas para as mulheres em 2005, “Sua vida recomeça, quando a violência termina”.
Criado em 25/10/2009 às 18h17 

Mulher é assassinada a facadas pelo próprio marido em Domingos Martins

DOMINGOS MARTINS – O assassinato de uma proprietária rural a golpes de faca abalou a comunidade rural do distrito pomerano de Melgaço, distante 28 quilômetros da sede de Domingos Martins. A vítima fatal é Irene Schöreder, 41 anos. O acusado de cometer o crime é o marido dela, Roberto Santana, 38.


Além de uma perfuração profunda no pescoço, provocada por arma cortante, ela apresentava um afundamento no crânio, provocado por uma pancada forte. Uma equipe da Polícia Civil fará o trabalho de perícia no local do crime e o corpo será encaminhado para o DML de Vitória.


O crime aconteceu por volta das 14 horas deste domingo (25) no quarto do casal. Uma filha de Irene e Rogério, de 14 anos, conforme parentes da vítima, teria presenciado o crime. Ela gritou desesperadamente pedindo socorro aos vizinhos. Quando os moradores chegaram ao local encontraram o casal caído no quarto, que estava banhado por sangue.


Após assassinar a mulher com um golpe de faca no lado direito do pescoço, Roberto Santana simulou um suicídio. Ele usou a mesma faca para fazer um corte no pescoço. Contudo, a lesão foi apenas superficial. O ferimento de Roberto foi suturado pelos médicos Jabes Paiva e Humberto Saleme, plantonistas do     Hospital Doutor Arthur Gerhardt, em Domingos Martins.

O acusado passa bem e está em observação médica. Irene Schöreder e Roberto Santana foram socorridos pelos parentes da cafeicultora e transportados em carros particulares até a unidade hospitalar de Domingos Martins. Irene chegou em estado gravíssimo e morreu quando os médicos ministravam os procedimentos iniciais de socorro.


Segundo o plantonista Jabes Paiva, ela sofreu um corte profundo no pescoço e teve rompimento na artéria carótida. “Ela já chegou em estado de choque e veio a falecer momentos após dar entrada no Pronto Socorro”, disse o médico, argumentando que o homem sofreu um corte superficial.


“Fizemos a sutura e o pusemos em observação por que está muito agitado, mas em relação ao ferimento no pescoço ele está bem. Foi superficial o ferimento de Santana”, disse o médico. A unidade hospitalar entrou em contato com a 6ª Companhia Independente de Polícia Militar.


O homem ferido está sob escolta do sargento Rogério e soldado Medeiros. De acordo com o capitão Marcelo Muniz, a PM permanecerá durante o tempo que for necessário na unidade hospitalar até liberação do preso. “Santana será encaminhado ao DPJ de Cariacica onde deverá ser autuado em flagrante pelo delegado de plantão”.


Parentes da vítima fatal que socorreram o casal estavam indignados com a situação. O agricultor Gilmar Schöreder, sobrinho da agricultora assassinada afirmou que Roberto bebia e maltratava da família. “ Ele esteve preso há poucas semanas por ter tentado contra a vida da própria filha”.


Roberto, conforme Gilmar enlouquecia quando estava bêbado. “Hoje ele conseguiu trazer tristeza e infelicidade para toda a comunidade de Melgaço que gostava muito de Irene, vamos sentir muita falta desta companheira e trabalhadora”.


Para outra parente da vítima Dolinha Schröder, Roberto Santana, pôs fim à vida de uma das mulheres mais trabalhadoras da região de Melgaço. “Ela cuidava de dez mil pés de café, capinava, adubava, colhia e e comercializava. Além disso, Irene trabalhava como meeira em propriedades com cafezais de vizinhos. Era uma máquina de trabalhar. Este homem não poderia ter feito isso com ela"

Por que a mulher não conta o que está acontecendo?
Existem diversas explicações pelas quais uma mulher não conta os episódios de violência. Eis alguns exemplos:
• Ela sente-se envergonhada ou humilhada.
• Ela sente-se culpada pela violência.
• Tem medo de ser culpada pela violência.
• Teme pela sua segurança pessoal e pela segurança de seus filhos e filhas.
• Teve más experiências no passado quando contou sua situação.
• Sente que não tem controle sobre o que acontece na sua vida.
• Espera que o agressor mude como ele prometeu.
• Crê que suas lesões e problemas não são importantes.
• Quer proteger seu companheiro por razões de dependência econômica ou afetiva.
• Tem medo de perder seus filhos e filhas.
• O agressor a acompanha ao serviço e não a deixa só com os profissionais

Por que o pessoal de saúde não pergunta?
Muitas crenças e mitos ainda persistem e dificultam falar de violência com as usuárias, como acreditar que:
• As mulheres merecem ou pedem o abuso, e que gostam de ser agredidas, senão não ficariam com o agressor.
• Acreditam que a violência doméstica é um problema social ou legal, mas não um problema de saúde pública.
• Não saberiam o que fazer se uma mulher lhes contasse sobre suas experiências de violência e por isto tem medo de perguntar.
• A violência é um problema pessoal e privado, e os profissionais não tem o direito de intrometer-se neste tipo de assunto.
• As mulheres podem sentir-se ofendidas se perguntarem diretamente sobre violência.
• A violência doméstica não acontece entre mulheres profissionais ou famílias com maior poder aquisitivo.
• A pressão para atender muitas pessoas por turno não lhes permite mencionar a violência.
• Os próprios profissionais sofrem /sofreram ou cometem /cometeram violência doméstica, ou conhecem casos com seus familiares e esta proximidade dificulta a ação.
• Podem conhecer pessoalmente o agressor ou membros de sua família e assim sentirem-se constrangidos em abordar o tema.
• Têm medo de represálias por parte do agressor.


REFERÊNCIA
Caderno de Violência Doméstica e Sexual Contra a Mulher. Secretaria da Saúde. Mulheres em situação de violência doméstica e sexual: orientações gerais. Coordenação de Desenvolvimento de Programas e Políticas de Saúde - CODEPPS. São Paulo: SMS, 2007.



Mulher é assassinada a facadas pelo próprio marido em Domingos Martins. Folha Vitória, Vitória, 25 out. 2009.



A violência contra a mulher é também uma questão de saúde pública


Segundo Tavares (2000) “o movimento feminista brasileiro tem ansiado pela implantação na rede pública de saúde de um serviço de assistência às mulheres que se encontram em situação de violência, pois,  desde  1980”. ( TAVARES,2000, p.15)

[...] a violência de  gênero  é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde - OMS como uma questão de Saúde Pública, não  somente  do  ponto  de  vista  dos  traumatismos  físicos  resultantes,  mas também  por  causa  dos  sérios  efeitos  para  a  saúde mental  das  pessoas  agredidas. Como  reconhece  a  Organização  Pan-Americana  de  Saúde  OPAS,  a  violência doméstica, pelo número de vítimas e magnitude de seqüelas orgânicas e emocionais que produz, adquiriu um caráter endêmico e se converteu em um problema de Saúde Pública em vários países". (Marciano, 1999, apud, TAVARES, 2000, p. 15).

Segundo Tavares (2000) para a promoção efetiva da saúde das mulheres, é necessário que a rede pública de saúde assuma esta questão como um desafio que deve com urgência ser enfrentado.   A violência doméstica como um fenômeno multifacetado não pode ser resolvido só  com  delegacias,  casa  abrigo  ou albergues, necessita principalmente, de atendimento na rede pública de saúde. (TAVARES, 2000, p. 17).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a violência doméstica como um problema de saúde pública, pois afeta a integridade física e a saúde mental. Os efeitos da violência doméstica contra a mulher sobre a saúde física e mental são evidentes para quem trabalha na área da saúde. Segundo Rufino "A rota das vítimas de violência doméstica passa regularmente pelos pronto socorros, ambulatórios e hospitais da rede de saúde" (Rufino, 1997). Os profissionais da saúde muitas vezes não conseguem fazer o diagnóstico pois,  não assumem a violência como da competência da saúde pública.

REFERÊNCIA
RUFINO, Alzira. Introdução do livro Violência Contra a mulher uma questão de Saúde Pública. Sub-Regional Brasil da Rede Feminista Latino-americana e do Caribe contra a Violência Doméstica, Sexual e Racial, 1997.
TAVARES, Dinalva Menezes Castro. A violência doméstica: uma questão de Saúde Pública. São Paulo: 2000 [Dissertação de Mestrado Universidade de São Paulo].